Esfera... Entendimento e equilíbrio, razões primordiais de uma grande busca interior, caminhar de encontro ao todo... Estar presente agora e sempre...Sem quinas, nem esquinas...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Néctar


Relembrando os velhos tempos, uma parte da minha infância, cheguei bem perto da natureza, pude sentir como se fosse agora o cheiro da terra molhada... O pomar, bem cedinho, coberto pela neblina, o que nos fazia lembrar o quanto estávamos mais perto do céu, no sítio em Mairiporã... Para chegar lá subíamos serras, morros e morros... Tudo lá em cima era a própria vida... Aqui em baixo, antes de subirmos, era uma euforia preparar as malas, pegar o cachorro, o gato e o periquito literalmente, tinhamos os três. Isso quando não dividíamos o carro com pintinhos que meus pais criavam em casa para depois levá-los, já franguinhos, lá para cima. Colocávamos todos no carro, os bichos, a televisão, eu , meus dois irmãos, meu pai, minha mãe, minha avó e a Nete... Família "buscapé" pronta, partíamos de encontro a natureza... Aventurados, muitas vezes atolados, em tempo de chuva, nos morros do caminho... Diversão garantida... Ao chegar corríamos para o galinheiro e o chiqueiro, a espera de novos seres que sempre estavam nascendo por ali... Lord, o cachorro, Ralf, o gato, estavam em seu habitat natural, sumiam pelo mato juntos! Brincavam como se fossem da mesma espécie... Voltavam algum tempo depois, sujos e cheios de picão, nos empenhávamos na limpeza deles... Nesta época, colhíamos fruta fresquinha no pé, rolavámos na lama, escorregávamos no morrinho de grama, passávamos horas em cima de árvores contando estórias e histórias, o Lord deitado em baixo da árvore, esperava... A Nete, moça que trabalhava para minha mãe, brincava com a gente o dia inteiro, lembro quando ela nos levava chupar cana, não usava faca, tirava a cana do solo com seus próprios pés e a descascava com seus próprios dentes, era o máximo! Chupavámos manga sentados nos galhos das mangueiras, a sensação de pisar descalço nas folhas secas, que ficam espalhadas aos montes em baixo do manguezal , é extraordinária! O cheiro do verde é incrível, até hoje passeia pelas minhas narinas... Colhiamos fava, minha mãe a preparava, fresquinha, uma delícia! Adorávamos fazer "guerra" de laranja e mexerica podre, que sobravam no chão do pomar, esconde-esconde à noite, o Lord participava, que cachorro inteligente, corria atrás de um de nós para se esconder e ficava quietinho esperando a hora de correr para se " salvar". Corríamos na brincadeira e do Lord, pois ele era grandão, um doberman, quem ele escolhesse para seguir, tinha que se esconder e esconde-lo, então, não podia ser em qualquer espacinho!!! Plantávamos flores com minha mãe e avó, o mais legal era que cada vez que voltávamos, íamos conferir o tamanho da muda plantada, já chegamos ver mudinha virar árvore... Porquinhos virar porcos enormes e feijoada! Tive o prazer de assistir o nascimento de um potrinho... Filhote da égua Baliza... Alimentávamos as galinhas, os porcos, os cavalos, os patos... Fugiamos dos gansos! No frio, andávamos bem agasalhados, tocas e galochas... Assávamos batata doce na lareira... Parecíamos de outro mundo... Ou melhor, estávamos em outro mundo, mesmo!

Tudo lá em cima era néctar dos deuses... O melhor que se pode viver... A simplicidade da vida no campo... Ficávamos mais próximos, fazíamos coisas juntos... Saboreávamos o gosto da vida e o cheiro que só ela tem: a natureza! Éramos acolhidos pela mãe mais amorosa. Colhemos seus frutos mais sagrados... Dividimos um espaço no mundo com ela, a natureza. Essas lembranças cresceram aqui dentro hoje, me trouxeram a marca da busca... Busca de um tempo mágico dentro do que se tem no mundo de mais real... O sentir que fazemos parte da natureza divina!!! Guardo aqui dentro um tempo maravilhoso, que devo não esquecer, tempo que me faz perceber que a vida é feita de coisas simples, porém magníficas!

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